Ansiedade prejudica o bom desenvolvimento da criança

Nova York, EUA. É alguma surpresa que tantas crianças sejam ansiosas? Como o recente horror ao tiroteio em uma escola norte-americana demonstra, as crianças, hoje em dia, podem ser confrontadas com realidades impensáveis, eventos que seus pais e avós nunca poderiam conceber. Mas muito do que as crianças temem não tem raízes na realidade: barulhos estranhos, quartos escuros, monstros debaixo da cama. Os pais, frequentemente, são chamados para ajudar a aliviar essas ansiedades, e a tarefa não é mais fácil só porque elas vêm da imaginação. 
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Um dos medos mais comuns na infância envolve ser separado dos pais. A ansiedade por separação é um estágio normal de desenvolvimento, que começa, tipicamente, em torno dos 9 meses de vida e termina por volta dos 3 anos. 
Contudo, para Daniel Smith, autor do livro "Monkey Mind: A Memoir of Anxiety" (ou "Mente de Macaco: A Memória da Ansiedade", em tradução livre), o trauma da separação dos pais começou aos 4 anos e durou até os 13. "Eu ficava histérico, nauseado, incapaz de aproveitar qualquer coisa quando eu estava separado dos meus pais. Eu sentia um buraco no meu estômago e o peito gelado. Apesar de ter querido ir para o acampamento, quando meus pais me deixaram lá, o conselheiro teve que me arrastar para fora do carro pelos tornozelos", relembra. 
Claro, alguns medos são funcionais, como aqueles que impedem que as crianças se exponham a riscos como correr entre os carros ou encostar no forno quente. Mas, quando a ansiedade interfere na habilidade da criança de levar uma vida normal - ir à escola, dormir na casa de um amigo, aprender a nadar ou andar de bicicleta, atravessar uma rua -, ela se transforma em um distúrbio que frequentemente requer tratamento. 
De acordo com Golda S. Ginsburg, especialista em ansiedade infantil da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, distúrbios de ansiedade afetam uma em cada cinco crianças nos Estados Unidos. "Mesmo que estejamos fazendo um trabalho melhor na identificação de distúrbios de ansiedade em crianças e tenhamos métodos eficazes de tratá-los, eles ainda não são todos diagnosticados nem tratados", declara ela.
O problema. Ginsburg explicou que distúrbios de ansiedade infantil tipicamente resultam de uma interação entre a biologia e o ambiente. Para alguns, como Smith, há um componente hereditário forte. 
Segundo Ginsburg, mesmo sem a influência hereditária, "algumas crianças nascem com um certo temperamento que aumenta seus riscos de desenvolver um distúrbio de ansiedade". A especialista afirma que o comportamento dos pais também tem efeito, especialmente aqueles que são "modelos" de ansiedade, comunicando verbal ou comportamentalmente que algo é perigoso. Ela citou pais que são superprotetores ou controladores, que, constantemente, identificam perigos no mundo da criança que não são ameaças reais - alertando a criança, por exemplo, para não tocar no corrimão de uma escada porque estaria cheio de germes.
Na descrição de como os genes e o comportamento podem interagir, Daniel Smith escreveu que "uma criança observa quem a está criando". "Foi só quando eu já tinha 20 anos, quando eu já estava fundo no meu caminho com a minha ansiedade, que minha mãe me falou abertamente sobre a ansiedade dela e o sofrimento que isso lhe causou. Mas, naquele momento, ela estava basicamente falando para si mesma. Eu havia me transformado nela", escreve.
Ao contrário de pessoas com psicoses, que temem riscos não existentes, como microfones em seus dentes, "o ansioso teme riscos reais: doenças, separações, ofensas, humilhações, fracassos", relata Smith em seu livro.

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