Brasileiros cantam com monjas

Musicistas afirmam que espiritualidade é maior que as diferenças culturais


O Butão é um país asiático encravado na cordilheira do Himalaia e considerado o "reino da felicidade" - isso porque o governo instituiu o índice de felicidade bruta. Foi nesse cenário que os amigos Felipe Rossi, Felipe Andra, Marta Castelo Branco, Felipe José e Edson Fernando passaram 20 dias em uma experiência de troca de saberes e imersão musical.

Eles ficaram no monastério Karma Drubdey Nunnery, localizado próximo ao povoado de Kungarabten, em Trongsa. 

"Essa viagem foi a culminância de anos de pesquisa musical e, principalmente, espiritual que iniciei em 2008. Estive no Butão por quatro vezes antes de trazer os outros músicos", comenta Felipe Andra, praticante do budismo da tradição vajrayana, considerada a religião oficial butanesa há cerca de oito anos. 

Andra considera que a vigem teve conotação espiritual, porque "fez brotar" nele "um novo olhar musical, que culminou na composição do concerto ‘Como Reflexo da Lua na Água’, dedicado a Padmasambhava, santo que introduziu o budismo no Butão, no século VIII".

Essa música foi apresentada em Belo Horizonte recentemente, quando o grupo se reuniu para compartilhar sua vivência no Butão.

"A cultura butanesa me fez me sentir em casa. O que aconteceu ali foi uma troca de saberes em que foi possível absorver a espiritualidade das monjas, pessoas muito prestativas, generosas e amáveis. 
Acredito que somos todos assim, em essência, o que faz com que seja sempre possível trocar quando se abre o coração. Tenho a clara convicção de que tanto elas quanto nós crescemos com a experiência", avalia Andra.

Mantra. O musicista cita o mantra "namo guru hasa benza ye", utilizado na abertura de uma das canções gravadas pelo grupo e que expressa a força da repetição das palavras na tradição budista vajrayana, também chamada de mantrayana, ou caminho do mantra.

"Nela, o mestre tem papel de extrema importância, em especial, na linhagem karma kagyu, da qual o convento onde estivemos faz parte. O mestre é visto como a corporificação de todos os budas do passado, do presente e do futuro", ensina Andra. 

Felipe José ressalta a musicalidade das monjas. "É algo realmente especial. Elas vivem isoladas no alto das montanhas do Butão e compuseram suas melodias naturalmente, segundo sua própria visão de vida", fala.


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