Estudo da UFMG leva otimismo a gestantes com pressão alta


Já com o enxoval pronto, a decoradora Luciana Horta Marra, 41, perdeu um bebê no sexto mês de gestação por causa de uma pré-eclâmpsia - doença que se caracteriza pelo aumento da pressão arterial, inchaço nas pernas e nos pés e presença de uma proteína na urina das grávidas. No Brasil, o quadro afeta entre 5% e 7% das gestantes, segundo dados do Ministério da Saúde.

O drama de Luciana talvez tivesse sido evitado se um medicamento inédito, em fase final de desenvolvimento pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), já estivesse disponível. Os primeiros testes, feitos em ratos e camundongos e em uma pequena amostra de mulheres em 2010, são otimistas. "Tudo indica que estamos no caminho certo", afirma Robson Augusto Souza dos Santos, coordenador da pesquisa e professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG.

A nova droga, desenvolvida em parceria com indústria farmacêutica a União Química, é um anti-hipertensivo específico para a gravidez. Além de oferecer menor risco à mãe e ao bebê, o diferencial do medicamento em relação aos demais é ele ser feito a partir do fragmento de uma proteína produzida pelo próprio organismo humano, a angiotensina 1-7.

A mais ampla fase de testes deverá ter início em fevereiro. Serão recrutadas cem mulheres com pré-eclâmpsia em hospitais públicos de Belo Horizonte. Dessas, 30 vão ter acompanhamento básico e outras 70 vão ainda receber medicação. Depois, serão envolvidos outros centros de pesquisa do país e, possivelmente, do exterior.

A perspectiva é que, até o começo do próximo ano, já se tenha alguma conclusão. Essa nova etapa deverá custar cerca de R$ 5 milhões, com recursos da parceira União Química e do Governo Federal, via Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanobiofarmacêutica.

Paradigma. Para Santos, a grande importância da pesquisa, além da diminuição de óbitos das mães e sequelas nos bebês, é que o Brasil está prestes a gerar seu primeiro medicamento não fitoterápico, o que significa uma quebra de paradigma. A conquista é resultado de mais de 20 anos de pesquisa, que envolveu cerca de cem profissionais de diversas áreas e já consumiu milhões de reais.
HISTÓRICO
Hipertensão é fator agravante do problema
Apesar de ter perdido seu segundo filho no sexto mês de gestação, a decoradora Luciana Horta Marra, 41, já era mãe de Gabriela, 3, fruto de uma gravidez também atormentada pela pré-eclâmpsia.

Com fortes dores de cabeça, presença de proteína na urina (enzima da pré-eclâmpsia) e a pressão chegando a 22 por 17, ela foi submetida a uma cesariana de emergência na 34ª semana – cerca de um mês e meio antes do previsto. Gabriela nasceu com baixo peso e pulmões imaturos, e teve de passar 23 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal.

Luciana relata que sempre foi hipertensa, mesmo antes de engravidar. Por isso, o controle da pressão arterial começou logo no início da gravidez. Mesmo assim, não foi possível evitar a pré-eclâmpsia e a prematuridade do parto.

Dois anos depois, recuperada do susto, a decoradora tentou um segundo filho. Mas a doença ou o excesso de medicação acabaram provocando a morte do bebê no útero.

"Não sabemos ao certo o que aconteceu. Não descarto a possibilidade de os remédios terem provocado malformação no bebê. Por outro lado, eu não podia ficar sem a medicação", diz ela, que conhece o trabalho do pesquisador Robson Santos. "Estou na torcida. Se tudo der certo, haverá muito mais finais felizes para as gestantes com pré-eclâmpsia", acredita Luciana. (MTL)

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