Onde termina a ficção pornô e começa a vida real na cama?

A partir de experiências pessoais, fundadora do Movimento Make Love Not Porn alerta que performance sexual, geralmente, se espelha em filmes pornográficos

A arte imita a vida ou a vida imita a arte? No caso das relações sexuais, a escritora e publicitária inglesa Cindy Gallop começou a perceber, em seus relacionamentos, que havia, por parte dos homens, o desejo recorrente de reproduzir uma performance sexual muito semelhante à dos filmes pornográficos. Ela decidiu, então, criar o movimento Make Love Not Porn (Faça Amor, Não Faça Pornô), para alertar sobre a pornografia machista que circula nos vídeos de sexo, e adotou o movimento como a sua principal atividade.

"Make Love Not Porn não é uma campanha antipornografia. A questão que quero tratar não é o pornô em si, mas, sim, a completa ausência, em nossa sociedade, de um diálogo aberto e claro sobre o sexo e o pornô. Tudo o que eu quero com essa campanha é que as pessoas falem sobre a sexualidade de uma forma aberta e saudável", explica Cindy. 
A design Mohara Magalhães, 24, concorda que, em muitas situações, os filmes mostram a relação de forma falsa. "O sexo anal, por exemplo, nos filmes é colocado como uma situação simples e confortável. Além disso, os vídeos pornográficos sempre mostram os homens extremamente peludos ou depilados. Algo não muito comum há algum tempo e que nem todas as mulheres gostam, mas que eles têm copiado", afirma.
A design conta que gosta de trazer para a ‘vida real’ algumas situações em que ela e o namorado, o bancário João Guilherme Nogueira, 20, costumam ver nos filmes pornô. "Sempre buscamos levar as situações da maneira mais divertida possível e, quando acontece algo desconfortável, na mesma hora, conversamos e combinamos de tentar de outra forma", conta.
Mohara acredita que essa é a melhor forma de lidar com o assunto, uma vez que esse já é um tema norteado de preconceitos. "Se não o deixarmos mais ‘leve’, pode acabar virando um obstáculo para a relação", afirma.
O casal não mede esforços para tentar realizar as suas fantasias. "Já testamos um masoquismo leve, chamar o parceiro por alguns termos usados nos filmes e lugares diferentes como em um campo de futebol em uma cidade do interior à noite", diz a design.
As namoradas Fernanda e Camila (nomes fictícios), 24 e 22, contam que, no caso dos vídeos "lésbicos", os filmes também são totalmente fora da realidade. "De fato, são mais para satisfazer a imaginação do homem que adora ver duas mulheres se tocando", comenta. 

Educação
A atriz Débora Vieira, uma das articuladoras da Marcha das Vadias, acredita que não é proibindo a indústria pornográfica que o "problema" será resolvido. "Se esse artifício virou uma das principais vias de educação sexual, atribuo à falta de opção, não porque seja melhor, mas por estar cada vez mais disponível, se tornou uma referência", diz. 
A Marcha das Vadias é um movimento internacional de mobilização contra a violência de gênero e a visão das mulheres como um objeto, a partir da roupa que vestem, por exemplo.
Débora diz que, em seus relacionamentos, não percebe essas atitudes tão predominantes no comportamento do parceiro. "A pornografia é só mais um elemento desse cenário, parte da engrenagem, mas que não se move por si só. Falta educação sexual em casa e na escola", reclama.

Casal deve se conhecer melhor para se entender
O sexólogo Sérgio Almeida alerta que o comportamento sexual dentro do contexto é normal, mas fora de lugar se torna pornografia. "A atitude no ambiente íntimo é um ato de carinho, ousadia sexual. Fora da intimidade, torna-se pornográfico", diz. 
Ele defende que a atitude se torna legítima desde que a aceitação seja do entendimento do casal. "Se, para ser feliz, precisa do estímulo dos filmes, não há nada de inadequado", garante. 
Almeida alerta para que os homens não utilizem os filmes como critério do que é certo e errado, pois, certamente, vão se frustrar em algum momento.

Fonte: http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=9061,OTC&busca=Onde%20termina%20a%20fic%E7%E3o%20porn%F4&pagina=1

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