Construção terá carência de mão de obra por 5 anos

Quem compra imóvel na planta não deve receber dentro do prazo


O apagão de mão de obra na construção civil continua, apesar dos sinais de acomodação no mercado imobiliário. E a tendência é de que não termine tão cedo. O coordenador do curso de gestão de projetos do Instituto de Educação Tecnológica (Ietec), Ivo Michalick, aposta que a dificuldade para conseguir mão de obra no setor continue no Estado nos próximos dois a cinco anos. "Além das obras da Copa, há ainda as referentes ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o metrô, entre outras", enumera.


Michalick diz que quem compra um imóvel na planta hoje tem boas chances de não conseguir morar no prazo estabelecido em contrato pela construtora, o que já vem acontecendo hoje. "Não vejo reversão no curto prazo. Afinal, formar mão de obra leva tempo", analisa.

Para especialistas e consumidores, os atrasos na entrega dos imóveis são fruto da falta de planejamento das construtoras. O projetista Guilherme Luciano da Cruz conhece bem o problema. "No final deste mês, se nada acontecer, vai completar um ano e sete meses de atraso. E a construtora não me deu qualquer tipo de satisfação", conta.

Cruz afirma que seria possível a entrega no prazo. "O problema é que as construtoras fazem muitas obras, mas não conseguem dar conta de tanta demanda", diz. 

O presidente da Associação dos Mutuários e Moradores de Minas Gerais (AMM-MG), Silvio Saldanha, também aponta o erro no planejamento como o principal motivo para o atraso na entrega do imóvel. "As empresas alegam nos processos a dificuldade de conseguir mão de obra e até mesmo material de construção. Entretanto, ainda assim, elas lançam mais empreendimentos. É um contrassenso iniciar então mais obras", critica.

Saldanha informa que a associação tem hoje 2.500 processos ativos contra bancos e construtoras. De janeiro a agosto deste ano, 200 consumidores ingressaram na Justiça através da AMM-MG em razão dos atrasos das construtoras, mesmo número de igual período do ano passado. "Isto mostra que o problema permanece. Afinal, as empresas sabem que, na maioria dos casos, elas não serão punidas, já que apenas 5% dos consumidores lesados procuram seus direitos e ingressam na Justiça", frisa Saldanha. 

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Luiz Fernando Pires, afirma que, embora o ritmo da atividade tenha se acomodado, a mão de obra ainda não é suficiente para atender o ritmo da demanda. Ele acredita que, no prazo de um ano, as construtoras vão se adequar à demanda. 

Luiz Pires ressalta que a falta de mão de obra qualificada não é solucionada a curto prazo. "Para formar um pedreiro, ele passa por um curso técnico de seis meses e precisa ter experiência de um a dois anos, em média, para se tornar um bom profissional", explica.

O dirigente do Sinduscon diz que o problema de mão de obra qualificada acontece em praticamente todo o país e não está restrito aos grandes centros urbanos. "Antigamente, as empresas buscavam trabalhadores no interior. Hoje, o interior tem emprego", diz Luiz Fernando Pires.
Construtoras estão valorizando mais a qualificação
A dificuldade para conseguir mão de obra continua, o que mudou, foi o tipo de demanda, que hoje está mais qualificada, de acordo com o diretor da Greenvalle Construtora, Luiz Jorge Ribeiro. "Hoje, o setor não aceita qualquer um, quer trabalhador qualificado", observa.


Ribeiro conta que uma vaga para engenheiro já ficou aberta por um ano. "Engenheiro até tem no mercado, mas, bons são poucos. Outro profissional difícil de encontrar no mercado é o pedreiro de acabamento", diz o diretor da Greenvalle.

Apesar das dificuldades para conseguir profissionais adequados, Ribeiro garante que boa parte das obras está obedecendo o cronograma. "Em torno de 80% das obras estão dentro do prazo. Quando há atrasos, eles variam de 30 a 60 dias", ressalta.

O diretor de operações da Mip Edificações, Márcio Afonso Pereira, explica que as construtoras estão buscando se adaptar ao cenário de escassez de mão de obra qualificada, que vem apresentando sinais de melhora frente aos últimos oito meses. "Antes, não havia gente procurando emprego, não havia filas. 
Agora, as filas estão começando a voltar", diz.

Pereira afirma que o cronograma da empresa está em dia, mesmo com os atrasos na entrega de vários fornecedores. "Alguns chegam a atrasar 60 dias. Embora haja dificuldade, isso não significa necessariamente atraso na obra", informa. (JG)

Fonte: http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=213401,OTE&busca=Constru%E7%E3o%20ter%E1%20car%EAncia%20de%20m%E3o-de-obra%20por%205%20anos&pagina=1

Comentários