"Lanchinho" da madrugada é doença e afeta 3 mi no país

O metabolismo fica mais lento de dia quando se concentra a alimentação à noite

Por diversas vezes e durante dois anos, a gerente e orientadora do Vigilantes do Peso, Fernanda Fernandes, chegou a se levantar durante a noite para comer doces. A sensação de ansiedade se misturava à vigília para que outras pessoas não comessem o "seu" alimento. As noites perdidas se completavam com um café da manhã à base de café puro. 

O que ela não sabia era que, por trás desse hábito, poderia se esconder um perigoso transtorno alimentar: a Síndrome Alimentar Noturna (SAN), que atinge cerca de 3 milhões de brasileiros.
A maior ingestão de alimentos com alto valor calórico à noite, combinada com os despertares no período noturno para comer, a insônia e a falta de apetite pela manhã são os principais sintomas da doença, que eleva os riscos de diabetes e de obesidade.
 Pesquisa realizada pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) revela que a SAN caracteriza-se por episódios frequentes de excessiva fome noturna e, por consequência, maior ingestão calórica após as 19h. A dieta deixa de ser saudável quando 55% ou mais da ingestão calórica diária ocorre após esse horário, sendo que o ideal das quantidades calóricas noturnas é que elas não ultrapassem os 15% dos valores diários. 
A alimentação predominantemente noturna cria um desequilíbrio no metabolismo, tornando-o mais lento durante o dia. Por isso, cerca de 10% dos obesos e 27% dos obesos mórbidos possuem a síndrome - dados que colocam o Brasil bem próximo aos números internacionais encontrados, por exemplo, nos Estados Unidos.
"Comecei um programa de emagrecimento com o qual aprendi a distribuir melhor as refeições ao longo do dia. Além disso, passei a não ter doces em casa e a tomar um café da manhã completo. Essas mudanças me fizeram emagrecer 11 kg em dois anos", conta Fernanda.
A auxiliar de serviços gerais Roberta (nome fictício) conta que, desde que ficou desempregada, há dois meses, sua fome no período da noite se intensificou. "Tenho a sensação de que à noite meu apetite aumenta muito. Depois de jantar, ainda quero comer biscoitos e pães. Já cheguei a comer tanto de madrugada que passei mal", relata. 
A endocrinologista Fernanda Pisciolaro, diretora da Abeso, revela que tem percebido o aumento da incidência da síndrome no Brasil e no mundo. "A hipervaloriza-ção da magreza e a preocupação em fazer dietas podem ser um ‘gatilho’ para o desenvolvimento da SAN, que tem uma relação estreita com fatores sociais e emocionais. Além disso, estudos mostram que dietas restritivas podem aumentar em 15 vezes o risco de adquirir algum tipo de transtorno alimentar", diz.

TRATAMENTO
Transtornos podem ser controlados
Todos os transtornos alimentares podem ser controlados, e o tratamento da síndrome alimentar noturna (SAN) deve ser feito com o acompanhamento de uma equipe interdisciplinar – com nutricionistas, psicólogos e endocrinologistas. 
De acordo com a psicóloga Mônica Lima, do Núcleo de Investigação de Anorexia e Bulimia do Hospital das Clínicas da UFMG, a SAN é uma modalidade de compulsão alimentar que pode ser desencadeada por um fator emocional – como o luto e a separação, entre outros fatores. Aprender a comer de forma equilibrada e a evitar dietas radicais são algumas formas de prevenção. 

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