Colocar gelo em lesão é pior para o desempenho de atletas

Pesquisadores ainda não estão seguros sobre os resultados
Londres, Reino Unido. Na tentativa de correr atrás de uma vida mais saudável, algumas pessoas exageraram na hora de praticar atividades físicas. E muitas delas usam uma estratégica comum para aliviar os músculos lesionados, que são as compressas de gelo. 
Entretanto, um estudo publicado neste mês no periódico científico "Journal Sports Medicine" levanta questionamentos sobre a eficácia do gelo e se ele, na realidade, não traria resultados contrários ao esperado. 
No artigo, pesquisadores da Universidade de Ulster e da Universidade de Limerick, na Irlanda, revisaram mais de 40 outros estudos sobre os efeitos do uso do gelo para se combaterem problemas musculares. E os achados foram surpreendentes. 
Em qualquer partida de futebol, basquete e diversos outros esportes, é muito comum ver inúmeros jogadores colocando gelo em partes do corpo durante os intervalos, enquanto se preparam para voltar ao campo. 
De fato, a maioria das pesquisas aponta que o gelo tem efeito positivo no alívio de dores musculares. Contudo, os cientistas alertam que essa estratégia para aliviar revelou também um efeito significante na redução da força muscular e no poder do músculo durante os 15 minutos que seguem a aplicação de gelo no local. 
Outra consequência verificada foi o enfraquecimento temporário da coordenação motora. Alguns dos estudos indicam que as pessoas enfrentam a propriocepção do membro ferido - ou seja, a sensação de perda da noção de onde está o membro - após a aplicação de gelo. 
Os resultados frequentemente apontaram desempenhos piores devido à aplicação de gelo, pelo menos temporariamente. Os voluntários não foram capazes de pular tão alto, correr tão rápido ou arremessar bolas com tanta força quanto antes, após até 20 minutos do efeito gelado.

"Os resultados sugerem que os desempenhos dos atletas provavelmente serão afetados adversamente se eles retornarem à atividade logo depois do resfriamento", concluíram os autores. 
Muitos dos atletas de fim de semana aproveitam bem as bolsas de gelo após uma sessão na academia, por exemplo. E fica difícil dizer se eles estão errados. Segundo os cientistas, os dados científicos são confusos até mesmo quando se trata de atletas recreativos. 
Um estudo de 2004 concluiu que, por mais que as bolsas de gelo tenham reduzido a dor em tecidos gravemente lesionados, os efeitos gerais da aplicação de gelo nas lesões não havia sido completamente avaliado e, portanto, mais pesquisas seriam necessárias para entender o problema. 
Um teste realizado em 2011 indicou a ausência completa de benefícios pela aplicação de gelo a músculos lesionados. Os músculos não se reconstituíram mais rapidamente e as pessoas não sentiram menos dor nos ferimentos em comparação com tratamentos sem gelo. 
Mesmo depois de tantas pesquisas, os estudiosos reiteram que é difícil entender os efeitos científicos do gelo, dada a impossibilidade de ministrar placebos aos pacientes, pois todos conseguem distinguir se o músculo está ou não sendo resfriado. 

Traduzido por Luiza Andrade

Algumas vezes o frio ajuda
Londres. Segundo o condutor do estudo, Chris M. Bleakley, professor adjunto da Universidade de Ulster, na Irlanda, a maioria das pessoas considera que há ocasiões em que o resfriamento dos músculos lesionados não é um problema. A aplicação do gelo pode ser após uma sessão pesada de exercícios, por exemplo, ou ao sentir uma lesão grave, desde que as atividades não sejam retomadas em seguida. 
De qualquer forma, se o retorno ao exercício for imediato, os efeitos negativos provocados pelo resfriamento não duram muito tempo e, geralmente, desaparecem após 10 minutos aproximadamente.
Segundo Bleakley, os efeitos negativos são ainda menores se a sessão de resfriamento durar de três a cinco minutos, e não 20, como geralmente é recomendado. 
Para ele, o gelo continua sendo um método rápido e barato para aliviar dores musculares. Entretanto, ele não recomenda o resfriamento se a pessoa for voltar em seguida para a atividade física. 
EFEITO COLATERAL
Resfriamento reduz velocidade de resposta dos nervos nos tecidos
Londres. Apesar das variadas teorias sobre o uso do gelo, ainda não se sabem os motivos que provocam a piora na performance dos atletas por ele. 
"A razão mais provável é que o gelo reduz a velocidade de condução dos nervos. Assim, os impulsos nervosos nos músculos ficam mais lentos", afirma Chris M. Bleakley, pesquisador da Universidade de Ulster e condutor do estudo. 
O resfriamento provavelmente "afeta as propriedades mecânicas da unidade músculo-tendão", explica o estudioso. Isso significa que os músculos e os tendões, que deveriam continuar trabalhando juntos, aparentemente deixam de fazê-lo. 
Outro ponto negativo indicado pela pesquisa sobre a utilização do gelo é o fato de os músculos resfriados apresentarem uma chance maior de sofrer lesões mais graves, apesar de os estudos não terem se concentrado diretamente nesse aspecto. 
Segundo os autores, se um ombro ou uma perna estão mais lentos durante uma partida de tênis ou corrida, a pessoa precisará fazer mais esforço, uma vez que o membro resfriado não responde aos estímulos de forma correta. Assim, o músculo pode deixar de "avisar ao cérebro" o início de um ferimento mais grave.
O risco se aplica a situações em que os atletas retornam à atividade logo após o resfriamento do membro. "Como um corredor que para e vai descansar durante o intervalo e recebe uma bolsa de gelo para aliviar a tensão nas pernas", exemplifica Bleakley.




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