Clientes criam sites exclusivos para reclamar de empresas

Consumidores insatisfeitos apelam para a justiça própria

Quando, em setembro de 2009, o publicitário Sérgio Rodrigues comprou seu imóvel próprio ele não imaginou a novela que estaria começando. Ele conta que o prazo estipulado para entrega do apartamento era de agosto do ano passado. No entanto, até hoje não recebeu as chaves e a novela, que se arrasta por quase três anos, ainda está longe de acabar. 

Detalhes do caso estão publicados no site www.circomrv.com.br - criado pelo publicitário para reclamar da MRV, construtora responsável pela obra. "Quando comprei o imóvel, fui tratado como rei pelo vendedor. Mas, na hora de prestar esclarecimentos, a empresa se furtou. Nunca fui procurado para que a situação fosse esclarecida", reclama.
Foi exatamente para tentar amplificar seu caso que Sérgio criou o blog. "Imaginei que várias pessoas estavam na mesma situação que eu. Se a gente se conhecesse e se unisse, a pressão em cima da construtora poderia ser muito maior", lembra. A previsão acabou se concretizando e vários compradores se manifestaram. O endereço, no entanto, ficou apenas duas semanas no ar. Uma notificação extrajudicial enviada pela MRV obrigou o publicitário a tirar o blog do ar. A acusação, segundo a notificação, foi a de "uso indevido de marca, nome empresarial e prática, em tese, de atos ilícitos civis e criminais contra a imagem e honra do Notificante". 
Sérgio retirou o blog do ar, mas ainda mantém o site, que conta sua história. Para evitar eventuais problemas judiciais ele retirou apenas as referências jocosas à empresa, como o logotipo da MRV associado a um circo. 
Versão. A MRV foi procurada para comentar especificamente esse caso. Por meio de nota, a empresa esclareceu que o apartamento no empreendimento Edimburgo, no bairro Castelo, região Norte da capital, no questionamento em questão, "o contrato de financiamento foi assinado em julho de 2011, com prazo de 19 meses expirando em fevereiro de 2013". 

Ainda de acordo com a versão da MRV, o processo do publicitário atrasou "devido à alteração de renda por parte do cliente e à necessidade de envio de documentação atualizada pelo banco". Por essa razão, segundo a nota, o processo foi liberado para assinatura apenas em julho de 2011", quase dois anos após a compra do imóvel. 
Sobre a nota exigindo a retirada do site do cliente do ar, a MRV esclareceu que a notificação "deveu-se ao fato do cliente utilizar de forma não autorizada e indevida a marca da empresa, o que é protegido por lei por ser patrimônio da empresa".


INSTRUMENTO
Reclame Aqui é uma história de sucesso
Lançado em 2000, o site Reclame Aqui (www.reclameaqui.com. br) é hoje a principal central de reclamações de consumidores contra empresas sobre atendimento, compra e venda de produtos. A empresa foi criada por quatro sócios, a princípio sem fins lucrativos, mas, com o sucesso do site, a empresa começou a aceitar anúncios, desde que tenham avaliação positiva no site.
O funcionamento do Reclame Aqui é simples. Os consumidores cadastram seus dados pessoais e postam reclamações sobre produtos e empresas específicas. As reclamações ficam visíveis a todos que visitarem o site. A empresa citada tem um espaço para enviar uma resposta e responder ao consumidor, que pode enviar uma tréplica. 
As reclamações vão compondo o banco de dados do site, que cria um ranking das empresas mais reclamadas e um painel de desempenho das empresas citadas. Nesse painel, é possível saber quantas reclamações já foram atendidas e qual o grau de satisfação dos consumidores.
Reclamações são contadas e organizadas em ranking online
A explosão do Twitter deu aos usuários e consumidores uma nova e poderosa ferramenta de reclamação. Três amigos da cidade paulista de Bauru resolveram reunir o mar de reclamações do Twitter um site de reclamações: o fez fail (www.fezfail.com.br).

O site, que reúne "as cagadas corporativas no Twitter", faz um ranking das empresas que foram citadas no Twitter com as marcações #fail e em que o nome da empresa é citado. 
Saída. Sérgio Rodrigues criou site para expor sua experiência negativa
com uma construtora, que atrasou na entrega do imóvel
O ranking é atualizado diariamente com as empresas que são mais citadas. Os tweets dos consumidores também aparecem na íntegra na página principal do site.
A expectativa dos idealizados é a de que o site tenha cerca de 20 mil acessos por mês até o final deste ano. Atualmente, 50 grandes empresas brasileiras já estão cadastradas para serem "captadas" pela busca do site. (PG)

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