Iraniano escreve enciclopédia há 38 anos


Meta do autor é encontrar a melhor pessoa para falar de cada assunto
PATRICIA COHEN
The New York Times

Nova York, EUA. Ralph Ellison escreveu durante 40 anos e nunca terminou seu romance. Antoni Gaudí trabalhou por 43 anos na Basílica da Sagrada Família em Barcelona, na Espanha, e a construção ainda continua. Nos livros sagrados das grandes sagas, Ehsan Yarshater também merece um capítulo proeminente.
Aos 53 anos, ele embarcou em seu "magnus opus", uma enciclopédia definitiva da história e da cultura do Irã. Aos 75, ele começou a procurar um sucessor. Como não encontrou alguém capaz de continuar o serviço, preferiu permanecer no cargo. Hoje, com 91 anos, chegou na letra K da ordem alfabética.
Ele sabe que não será capaz de completar a tarefa pessoalmente, principalmente porque o conhecimento continua expandindo, na medida em que o progresso se desenrola.

Há assuntos que precisam ser acrescentados, e temas que precisam ser atualizados. Por isso, Yarshater tem tentado garantir que seu trabalho será continuado após sua morte. Acabou estabelecendo uma fundação privada que já recebeu 12 milhões em doações e, finalmente, conseguiu escolher três acadêmicos para se encarregarem de substitui-lo no posto de editor geral. 
A ambição cuidadosamente tecida de Yarshater é impressionante. Com dinheiro do Instituto Nacional de doações a Humanidades, nos Estados Unidos, ele trabalhou para criar a coleção mais inteligível e mais completa de milhares de anos da história iraniana, da língua e da cultura no Oriente Médio, do subcontinente Indiano e na Ásia central.

"Não há nada sequer parecido com esse material em termos de qualidade", afirma Ali Banuazizi, professor da Boston College e ex- presidente da Associação de Estudos do Oriente Médio da América do Norte.
Diferentemente de uma enciclopédia convencional, que brevemente resume o conhecimento existente, o trabalho de Yarshater, chamado "Encyclopedia Iranica", está produzindo conhecimento, em vez de simplesmente resumi-lo.
"A maioria dos artigos requer muita pesquisa", afirma Banuazizi, porque são assuntos que ninguém ainda chegou a estudar profundamente.
Yarshater elevou o valor das apostas. "Nossa meta é encontrar a melhor pessoa no mundo para falar de cada tema", disse. Por isso, o pesquisador já busca, há dois anos, uma pessoa que possa falar sobre Sirjan e Rafsanjan, distritos que ficam ao sul do Irã.
O professor não visita o Irã há 32 anos, desde que o Aiatolá Khomeini depôs o Xá do Irã e estabeleceu a república Islâmica em 1979. "A imparcialidade da enciclopédia não agrada o atual governo persa", conta o professor, com a voz bem baixinha, quase em um suspiro.
Um tremor que gera certo incômodo e que se manifestou em suas mãos há alguns anos agora se espalhou para os joelhos e as cordas vocais, deixando seus movimentos mais lentos e forçando-o a aceitar um assistente de pesquisa. Fora isso, ele se sente saudável. "Meu sistema imunológico está ótimo", comenta.
Traduzido por Luiza Andrade.


12 HORAS
Jornadas de estudo são longas
Nova York. Durante anos, a rotina do professor Ehsan Yarshater foi de longas horas de trabalho, voltando para casa somente quando sua esposa andava até o Centro de Pesquisas Iranianas para buscá-lo. "Não sei quantas esposas poderiam tolerar esse comportamento", comenta, apreciando a esposa. Ela faleceu em 1999.
Yarshater espera que as outras pessoas disponham do mesmo entusiasmo que ele pelo trabalho. O professor levou 17 anos para escolher seus substitutos, rejeitando um acadêmico ao concluir que o homem estava "muito mais preocupado com quantos feriados ele teria no ano e quantas horas teria que trabalhar do que com o trabalho em si".
Atualmente, o acadêmico trabalha apenas até as 21h, ficando longas horas no escritório após todas as demais luzes já terem sido apagadas. Quando volta para a casa, se envolve com seu mais novo hobby, aprender a língua russa.
Conhecido por uma série de conquistas, foi o editor geral de uma tradução de 40 volumes do "Al-Tabari História do Mundo do Décimo Século", editor de livros da Universidade de Cambridge sobre a história do Irã, e editor- fundador de uma coleção clássica sobre a língua persa e a sua história.
Em meados da década de 90, ele se preocupava com o fato de que a poesia persa – segundo ele, a maior contribuição persa à literatura mundial – estava sendo ignorada. Então, iniciou um projeto de 20 volumes de literatura persa. "Foi assim que descobri minha doença ", brinca o professor. "Sempre que algo não está sendo feito, tenho a sensação de que devo começar a fazê-lo", explica o acadêmico.

Carreira de projetos pioneiros
Nova York. Os 1.480 colaboradores ao redor do mundo, que, até hoje, já construíram 6.500 tópicos da enciclopédia, conhecem muito bem a implacabilidade de Yarshater. 
Até recentemente, ele meticulosamente conferia e revisava todos os tópicos. Como a enciclopédia é, primeiramente, uma ferramenta acadêmica, todos os faros precisam ter várias fontes.
Antes de Yarshater embarcar na jornada de elaboração da enciclopédia, viajou pelo Irã, estudando dialetos obscuros, e escreveu um trabalho inovador em linguística. Na década de 50, levou literaturas clássicas do ocidente a comunidades remotas, estabelecendo um instituto de publicações no Irã. 
Em 1961, Yarshater foi nomeado professor titular de estudos Iranianos na Universidade de Colúmbia – o primeiro professor titular de Persa em uma universidade norte-americana, desde a Segunda Guerra Mundial. 
Fonte: http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=191960,OTE

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