Inimigos da web: dez países censuram acesso à rede mundial


Nações ocidentais também restringem, mas de forma sutil, diz cientista político
HELOÍSA MENDONÇA

A internet vem desempenhando um papel importante nos recentes movimentos contra a ditadura. A chamada Primavera Árabe iniciou uma revolta a favor da liberdade de expressão que sacudiu regimes como os da Tunísia, Egito, Líbia, Síria e Iêmen. Como resposta, regimes repressivos desenvolvem intensos esforços para controlar os conteúdos digitais, desde censura até repressão física de quem usa a rede. De acordo com relatório da organização Repórteres sem Fronteiras deste ano, dez países são considerados "inimigos" da internet e 16 estão sob vigilância. Pelo menos 119 pessoas estão presas pelo fato de terem utilizado a web para se expressar livremente. Bruno Reis, professor de ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), alerta que essa guerra entre usuários e regimes autoritários não é fácil. "O governo tenta controlar fluxo e a população tenta se esquivar, é um jogo de gato e rato. Não é como antigamente, em que era preciso apenas censurar as redações de jornais. Além da internet, existem também os celulares. É uma frente de conflito difícil. Em momentos agudos, os regimes podem até tirar do ar a rede, mas não são capazes de sustentar a falta de acesso total. O custo econômico é devastador". O professor de sociologia da PUC Minas Moisés Augusto Gonçalves concorda que a censura não possui mais o mesmo alcance de antes. "O mundo virtual não pode ser controlado como uma cidade. As respostas do outro lado são diferenciadas, é difícil entender. O governo chinês, por exemplo, tenta controlar o mundo virtual, mas há sempre brechas e maneiras de burlar", explica. Para Reis, ditadores procuram bloquear principalmente as redes sociais, como o Facebook e o Twitter, porque elas se transformaram em uma das maiores aliadas dos dissidentes. "A web foi transformada em veículo de coordenação de protesto. As pessoas precisam saber a que horas, em que lugar, manifestações irão acontecer. Se esse fluxo é controlado nas redes, os efeitos são, sem dúvidas minimizados", afirma. Mas a web também pode ser utilizada pelos líderes ameaçados para consolidar seu poder, alerta o cientista político. De acordo com Reis, as mesmas características que convidam para o ativismo descentralizado também funcionam como fonte potencial para os governos. "Com estilo provocativo, o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, falou que o Facebook é a mais formidável máquina de espionagem. O preço da rapidez de informação é a grande exposição", explica. Na Síria, sites que promovem propaganda ou posições oficiais estão se proliferando, como o da Agência de Notícias da Síria (Sana).
Ocidente. Segundo Gonçalves, formas de controle da web também ocorrem nos países ocidentais, mas de maneira mais sutil. "É um lado invisível. Bush autorizou um forte método de vigilância depois do 11 de Setembro, que na época teve pouca repercussão, mas os serviço de inteligência estava autorizado a controlar e vigiar a web. E não é apenas o Estado. Grandes corporações também trabalham com essa vigilância já que têm interesses de mercado e dominam a tecnologia", afirma.
Internet bloqueada

Birmânia: antes das eleições de novembro de 2010 – a primeira em 20 anos –, censuradores recorreram à repressão em massa, intimidações e ataques cibernéticos para reduzir o risco de uma cobertura negativa. O monitoramento está agora no seu auge.
China: o governo chinês, preocupado com o fato de que o dissidente Liu Xiaobo foi agraciado com o Nobel da Paz e com medo dos efeitos das revoluções da Primavera Árabe, reforçou drasticamente o controle sobre a web, a fim de mudá-la de um meio de protesto para uma ferramenta de controle político. 
Cuba: o regime cubano, mais cauteloso com os blogueiros que com os dissidentes tradicionais, decidiu expandir sua presença online para combatê-los. Duas redes paralelas coexistem na ilha: uma rede internacional e uma intranet cubana monitorada.

Irã: o país intensificou a repressão e a vigilância online nos últimos tempos, particularmente nos períodos de agitação e manifestações, durante os quais as autoridades têm causado propositalmente lentidão e desconexões da internet. Vários internautas foram condenados à morte.

Coreia do Norte: ela está literalmente cortada do mundo, e a sua internet não é exceção. A web é acessível apenas a uma pequena minoria. Ela é garantida somente através de um link 
de satélite para estrangeiros com base em servidores.
Arábia Saudita: um sistema estrito de filtragem é aplicado em qualquer conteúdo que as autoridades julguem "moralmente censurável". Sites que discutem questões religiosas, de direitos humanos ou os pontos de vista da oposição também são bloqueados.
Síria: a nova lei de mídia reforçou a censura que tem tentado desencorajar as mensagens sobre a queda dos regimes nas revoluções da Primavera Árabe. Donos de cibercafés devem manter os dados pessoais dos visitantes e uma lista de sites visitados.


Turcomenistão: o governo tem freado o recen-te crescimento da web e continua praticando a censura generalizada. Sua aquisição monopolista do mercado de telefonia celular tem permitido reforçar seu controle sobre a comunicação.
Uzbequistão: o Estado ainda  busca  prevenir a disseminação de informações e de esforços para iniciar uma sociedade civil. A comunidade internacional parece mais determinada em 
fazer concessões do que realmente exercer qualquer pressão real sobre o país em virtude 
do vasto potencial energético do país. ...
Vietnã:o 11º Congresso do Partido Comunista deste ano marcou o início de uma abordagem mais linha-dura por parte do regime com seus críticos. Houve uso maciço de ciberataques para silenciar dissidentes. "Blogar" se tornou uma atividade  perigosa no país.

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