Filme fala da Relação entre mãe e filho


Qual o futuro de uma criança que acaba de nascer? Qual o peso das relações familiares, ou da falta delas, para explicar uma tragédia de dimensões sociais? Até onde há culpa e de quem é? Essas três perguntas básicas servem de norte ao livro "Precisamos Falar sobre o Kevin", que chega aos cinemas de Belo Horizonte em adaptação assinada pela diretora britânica Lynne Ramsay. 
No livro, a ação se passava após Kevin, um adolescente norte-americano, cometer um assassinato em massa na sua escola. É a partir da escrita de cartas de Eva, a mãe, para o pai, Franklin, que a narrativa se concentra na reflexão sobre as razões do genocídio. No filme, a premissa epistolar é abandonada em favor de uma linguagem mais fragmentada, em que as idas e vindas no tempo funcionam como uma espécie de sonho – ou pesadelo. O vermelho da festa de tomates da cena inicial (um misto de desespero e gozo) invade toda a fita, funcionando como uma espécie de símbolo do sangue que será derramado – assim como parece ser uma referência proposital a Lady Macbeth a constância com que Eva lava suas mãos, como quem quer se livrar da culpa. O ato cruel do adolescente, o espectador não vê acontecer. Afinal, o que interessa para a diretora não são exatamente os assassinatos cometidos, mas de que maneira as relações familiares, principalmente entre mãe (Tilda Swinton) e filho (Ezra Miller), podem determinar uma tragédia como essa. 
A narrativa cinematográfica não empobrece a literária em sua adaptação, mas deixa o embate psicológico da mãe – grande trunfo do livro – para entender o que se passou em segundo plano. 
Tilda Swinton consegue dar, ao mesmo tempo, fragilidade e vigor à sua personagem-protagonista, sem que para isso lance mão de pirotecnias. É tudo sutil, pequeno, silencioso. (Soraya Belusi)

Comentários