Cuidados com a audição pode evitar Alzheimer


Nova York, EUA. A perda da audição geralmente não é tratada por 85% das pessoas atingidas. Ela começa de forma pouco evidente para os pacientes e para aqueles que convivem com eles. Dentre as inúmeras formas de ignorar a situação, muitos pacientes preferem fingir que entenderam o que lhes foi dito. Esse comportamento é o mais arriscado, uma vez que a perda da audição está relacionada ao mal de Alzheimer, segundo um estudo norte-americano.

A maioria das pessoas que sofrem de deficiência auditiva não deixa de ouvir sons completamente. Por isso, elas pensam que o problema está nas outras pessoas, que não falam claramente. Assim, esses pacientes costumam pedir que os terceiros falem mais alto, que repitam o que foi dito ou pronunciem de forma mais lenta.
Estudos. Há mais de duas décadas, periódicos científicos vêm relacionando os problemas de audição à demência e às disfunções cognitivas. Porém, foi apenas no ano passado que os cientistas conseguiram provar uma associação independente com a demência ao longo do tempo.

O estudo foi feito pelo médico otorrinolaringologista Frank R. Lin, do Centro John Hopkins de Medicina, e seus colegas do Centro Nacional de Envelhecimento dos Estados Unidos. Durante quase 12 anos, eles acompanharam 639 pessoas entre 36 e 90 anos, e comprovaram a relação direta entre o grau de perda auditiva dos participantes e o risco do desenvolvimento posterior de demência ou da doença de Alzheimer.

Para a perda de cada 10 decibéis no poder auditivo, o risco de demência aumentou em 20% entre os participantes. Comparados àqueles que podiam ouvir normalmente, o risco de demência dobrou entre aqueles que tinham uma perda mínima auditiva. A possibilidade de problemas mentais triplicou entre os voluntários que tinham perda considerada moderada. No caso dos pacientes com comprometimento grave da audição, o risco da demência aumentou cinco vezes.


A relação entre perda da audição e a demência persistiu mesmo quando outros fatores ligados a doenças cognitivas foram considerados, como hipertensão, diabetes e hábito de fumar.

Aparelhos. O índice de pessoas que fazem o uso de aparelhos de audição é pequeno - estima-se que sejam apenas 15% dos que apresentam problemas. Entretanto, esses dispositivos não são a melhor solução, segundo os especialistas.

Os aparelhos funcionam melhor quando estão a distâncias menores que 1,8 m e quando o som ambiente é mínimo, impedindo a boa audição em locais como teatros, aeroportos ou restaurantes. Isso significa que o tratamento e a inclusão da pessoa em dificuldade vão além do uso do dispositivo.


Segundo os pesquisadores norte-americanos, a descoberta da relação entre a má audição e o Alzheimer é um alerta. Por isso, a indicação é que os pacientes procurem fazer testes de audição com frequência. Dessa forma, eles serão diagnosticadas e poderão iniciar tratamentos que favorecem a manutenção ativa da cognição.

Traduzido por Luiza Andrade

SUS cobre tratamento no país
No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) atende pacientes com deficiências auditivas. São providenciados implantes nos casos que não podem ser resolvidos com aparelhos auditivos. Segundo o Ministério da Saúde, a cirurgia de implante coclear começou a ser feita pelo SUS em 2000. 

Atualmente 24 unidades de saúde no país podem realizar o procedimento. 
Essas unidades estão distribuídas no Distrito Federal e nos Estados da Bahia, Ceará, Minas Gerais, Pará, Piauí, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina. 
De 2000 a outubro de 2011 foram realizadas 3.474 cirurgias de implante coclear, com investimento de mais de R$ 155 milhões, só para cirurgias e próteses. (Da redação)
ALERTA
Mente procura compensar deficiência
Nova York. Segundo o otorrinolaringologista Frank R. Lin, as pessoas tendem a notar problemas de comunicação somente quando a perda auditiva chega a 25 decibéis. Nesse caso, o paciente não para de escutar, mas não consegue compreender o que foi dito. "Neste nível, a perda de audição afeta a clareza das palavras", completa.

O médico explica que o cérebro dedica muitos recursos à audição. Quando a clareza das palavras é alterada, o cérebro recebe mensagens adulteradas. "Ele tem que realocar recursos para escutar, às custas de outras funções cerebrais", explica.
Assim, o cérebro sobrecarregado pode perder "reservas cognitivas", ou seja, a habilidade de partes saudáveis do órgão em adotar funções que foram perdidas por outras partes sensoriais.
Além disso, o médico alerta para o isolamento social. Segundo ele, o engajamento social é fundamental para a qualidade de vida e de saúde em adultos mais velhos. As pessoas que se isolam podem até desenvolver mais inflamações pelo corpo e, por sua vez, podem resultar em maiores disfunções e problemas de saúde.

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