Tem corrido demais? Cuidado, pode ser a síndrome da pressa

Intolerância, tensão e impaciência estão entre os principais sintomas da doença

Você acha que não tem tempo para nada? Gostaria que o dia tivesse o dobro de horas? Não suporta esperar em uma fila? Ficar preso no trânsito é um martírio? Nos dias de hoje, é difícil encontrar alguém que não viva com a sensação de que está sempre correndo contra o tempo. O problema é que tamanha correria pode significar um transtorno batizado pelos especialistas como síndrome da pressa.

O mal ainda não reconhecido cientificamente como uma doença, mas seus sintomas têm sido cada vez mais identificados nas pessoas, em especial naquelas que vivem nos grandes centros. Em alguns casos, a síndrome ultrapassa as questões comportamentais e as pessoas passam a desenvolver problemas mais graves.
"A síndrome altera a qualidade de vida das pessoas e as leva a viverem em constante urgência. É como se elas tivessem que fazer muita coisa em pouquíssimo tempo", explica a psicóloga da PUC Campinas Marilda Lipp, responsável por uma pesquisa que acompanhou o comportamento de 2.000 pessoas em grandes centros. O levantamento mostrou que 65% delas apresentam tendência à síndrome da pressa. Entre os executivos, os mais acometidos, o índice chega a 95%. Em 10% dos casos, os "apressados" transformam o comportamento em doenças.
Marilda Lipp diz que a síndrome é percebida na maneira como a pessoa organiza seu dia. As bolsas estão sempre pesadas, cheias de muitos papéis e agendas, onde tudo é anotado. Um outro sintoma típico de quem tem o problema é a culpa em não fazer absolutamente nada. Talvez para essas pessoas seja "mais fácil" acumular diversas atividades do que simplesmente curtir os momentos de ociosidade. "Não aguento ficar parado e, se tiver alguém lento na minha frente, fico irritado", diz o metalúrgico Marcos Antônio Silva, 50, um apressado assumido.
Tensão, impaciência, ansiedade, sono agitado, intolerância com atrasos e até problemas de memorização são outros indicativos do problema.
A arquiteta Ana Cecília Moreno, 26, é sócia de um escritório, faz mestrado e, até o mês passado, dava aulas. Ela diz como sofreu em acumular mais atividades do que o corpo aguentava. "Tive que abandonar as aulas porque não estava dormindo". Na primeira semana, ela já sentiu a mudança. "Achava muito estranho chegar em casa cedo, mas percebi que estava, na verdade, começando a ter uma vida normal".
Mais de 30 dias
Alerta. O psiquiatra Fernando Volpe explica que, se os sintomas durarem mais de 30 dias, é preciso procurar ajuda. "A ansiedade por algo específico, como uma entrevista de emprego, é normal. Mas, se persistir, pode ser um problema".
FIQUE ATENTO
Apressadinhos podem desenvolver fobias e pânico
As pessoas apressadas vivem em constante estado de alerta, irritadas e impacientes. Segundo os especialistas, esse comportamento aumenta o nível de adrenalina no organismo e pode causar uma situação de estresse crônico ou até mesmo transtornos como a fobia e o pânico. Além disso, a dificuldade de relaxar e a constante correria aceleram o envelhecimento do corpo.
"Cerca de 40% dos casos que eu atendo no consultório são de transtornos de ansiedade. O pior é que a maioria das pessoas só procura ajuda quando as doenças e os problemas aparecem", explica o psiquiatra Fernando Volpe. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), nove em cada dez pessoas sofrem com as mais variadas formas de estresse. Esse grupo é mais propenso a sofrer infartos, úlceras e gastrites.
A saúde do fotógrafo Alessandro Bastos, 33, já deu sinal de alerta. Sem tempo para descansar nem nos fins de semana, quando fotografa casamentos, Bastos sofre com as preocupações de uma rotina puxada. "É tanto trabalho que eu só me lembro de almoçar depois das 16h e sempre tenho problemas de estômago. Eu queria parar o relógio para conseguir fazer tudo".
Outra consequência é o distanciamento dos amigos. "Eles já desistiram de me chamar para sair porque eu estou sempre ocupado. Não consigo sequer ir ao cinema", desabafa Bastos. (JS)
FOTO: DANIEL IGLESIAS
Tudo ao mesmo tempo. <MC>Durante os 20 minutos de seu almoço, a estudante Isabelle Araújo falou ao celular e fez anotações na agenda
APRESSADOS
Só 40 minutos para alimentação
Pressa na hora de comer pode causar problemas de digestão e engordar
Os apressados costumam fazer várias coisas ao mesmo tempo, como comer e falar ao celular ou usar o computador. Ao se sentarem, eles não encostam na cadeira porque assim já estão prontos para sair. Esse ritmo frenético leva muita gente a dormir cada vez menos e a comer mal e rapidamente. Uma pesquisa britânica é prova disso. Segundo o levantamento, as pessoas dedicam apenas 40 minutos do dia à alimentação. Mais um sintoma da síndrome da pressa.
O estudo, publicado pelo jornal britânico "Daily Mail", mostra que o almoço leva em média 12 minutos e 49 segundos. No café da manhã, são sete minutos e 20 segundos e, no jantar, 19 minutos. No Brasil, a situação é semelhante. No restaurante Meu Favorito, na região Noroeste de Belo Horizonte, a maioria dos clientes almoça, em média, em 15 minutos. "Eles falam ao celular enquanto comem. Alguns param no meio do almoço e vão embora correndo", conta a proprietária, Márcia Garcia.
Enquanto almoçava, a estudante Isabelle Araújo, 22, falava ao telefone e fazia anotações. "Eu sempre faço várias coisas ao mesmo tempo, acho que aprendi com a minha mãe", diz.
Não há, na pesquisa, dados sobre o número de entrevistados, mas o estudo revela que metade deles tem tantos compromissos que ‘pulam’ o almoço para não desperdiçar tempo. As mulheres são as mais propensas a esse comportamento. Além disso, 45% dos entrevistados se distraem com outras tarefas enquanto comem.
Mesmo sendo a realidade de grande parte dos analisados, a maioria (78%) diz que gostaria de ter mais tempo para saborear a refeição.
A nutricionista Beatriz Carvalho explica que comer depressa diminui o tempo de mastigação e atrapalha a digestão. "Além de comer mal, a pessoa não consegue perceber que está satisfeita e pode comer mais. É bom curtir a alimentação, aproveitar".
O personal trainer Vinícius Antunes, 21, gasta entre dez e 20 minutos para almoçar. É o resultado de um dia que começa às 5h30 e termina depois das 23h em um constante ritmo agitado. Ele trabalha em uma academia de manhã, estuda à tarde e atende clientes particulares à noite. "A correria é tanta que, no fim de semana, acordo assustado achando que perdi o horário".
Viva mais leve!
Confira algumas dicas para os apressadinhos que desejam diminuir o ritmo:
- Tenha consciência de seus próprios limites
 
- Estabeleça prioridades e não se preocupe com o resto
- Aprenda a dizer "não"
- Adie o que não for realmente urgente
- Desligue o telefone no fim de semana, aproveite seu momento de descanso
- Deixe de usar o relógio
- Reserve pelo menos três horas para as principais refeições e não faça mais nada ao mesmo
 
- Busque momentos de lazer e relaxamento
- Tenha entre seis e oito horas de sono por dia
TERCEIRO TURNO
Eles invadem a madrugada
Com a falta de tempo para tantos compromissos, muita gente recorre à madrugada para realizar suas atividades. É o "terceiro turno". Diante disso, hoje, não são apenas as casas noturnas e os bares que abrem suas portas depois das 22h. Em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília já é possível fazer cursos, ir ao dentista, à academia e ao supermercado de madrugada.
Na capital mineira, as possibilidades ainda são poucas, mas a oferta e a demanda são crescentes. Um dos pioneiros foi o supermercado Extra, que funciona 24 horas. Segundo o diretor regional Luiz Carlos Costa, nos últimos seis meses, o movimento subiu cerca de 25%.
"A madrugada é uma opção para quem quer fugir do tumulto e otimizar o tempo corrido. Hoje, as pessoas conciliam comodidade e praticidade", afirma Costa. (JS)
FIM AO ESTRESSE
Melhor é definir prioridades
Administrar a rotina é um verdadeiro desafio para muitas pessoas. E os especialistas afirmam que não há uma fórmula mágica para a criação de uma rotina ideal. O que as pessoas devem fazer, de acordo com eles, é estabelecer prioridades e se conformar que o dia sempre terá mesmo 24 horas.
"Ninguém consegue fazer tudo e terminar tudo. Se você fizer a tarefa de duas pessoas, vai se desgastar por dois. Então, estabeleça suas prioridades e não se preocupe com as coisas que não são urgentes", explica Marilda Lipp, psicóloga da PUC Campinas.
A especialista alerta ainda que a qualidade de vida deve ser colocada sempre em primeiro lugar. Se o bem-estar estiver prejudicado em prol de compromissos de trabalho, por exemplo, o melhor é mudar a rotina. Para desacelerar, vale tudo: técnicas de relaxamentos, exercícios respiratórios, atividades físicas, ioga, momentos de lazer ou terapia.
A empresária Alessandra Dias, 28, descobriu uma forma de fugir da correria. Ela é dona de uma loja e de uma confecção de roupas, e trabalha das 9h às 20h. Uma vez por semana, ela arruma um tempo na rotina puxada para fazer massagem relaxante. "Eu volto revigorada das sessões, pronta para aguentar novas pressões".
A gerente de uma clínica de massagens, Marcela Batista, afirma que a demanda por serviços para relaxamento tem aumentado nos últimos quatro anos. "Muitos clientes vêm aqui na hora do almoço para relaxar porque terão uma reunião importante depois", afirma. (JS)


Fonte: www.otempo.com.br

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