Os transportes públicos e a fábula de Esopo

Nos últimos anos, tem sido recorrente a reclamação de usuários dos transportes por ônibus em áreas urbanas. As reclamações são relativas ao não-cumprimento de horários e à superlotação dos ônibus.

Mas existem outras, como a beligerância dos condutores em relação aos usuários, como os idosos ou aqueles com deficiência de locomoção, além do valor da tarifa, que, como consta, tem expulsado do sistema uma grande quantidade de usuários.

Em face das reclamações, preocupa-nos a postura de operadores de ônibus, bem como a dos nossos dirigentes públicos, que frequentemente respondem às demandas com sofismas e falsas promessas, sem apontarem medidas que vislumbrem, pelo menos no médio prazo, a solução do problema.

A comunidade técnica, tanto quanto os operadores e dirigentes públicos, conhece há muito a origem dos problemas e como enfrentá-los. No entanto, preferem, assim como o avestruz, esconder a cabeça em um buraco.

Como na fábula "O Lobo e o Cordeiro", de Esopo, só falta veicular que a culpa é do usuário (ou da quantidade deles), que insiste em viajar nas horas de pico pelo desejo fútil de trabalhar ou estudar ou, quem sabe, para ir ao médico.

Como ousam esses usuários causar problemas para operadores e dirigentes públicos? Melhor seria se ficassem resignados em suas casas e, como aquela música, "esperando a morte chegar...".

Ironias à parte, melhor seria se os nossos dirigentes públicos cobrassem das casas do Legislativo e do Ministério Público ações mais efetivas para o estabelecimento de políticas públicas de transporte do que apoiarem medidas perfunctórias como "o dia do orgasmo".

O que a população precisa é de transporte público de qualidade. Para tanto é fundamental a introdução na matriz de transportes públicos de outros modos (tecnologias) que propiciem maior regularidade, conforto e segurança para os usuários. Também o desenvolvimento de uma política tarifária na medida da capacidade de pagamento dos usuários, principalmente os de menor renda.

Essas ações requerem que as cidades adotem um planejamento estratégico ancorado em sistemas de transporte de massa, sobretudo em modos que operem sobre trilhos, como Veículos Leves sobre Trilhos (VLT), trens urbanos/regionais e metrôs. Somente assim os ônibus poderiam retornar para a sua faixa de eficiência e prestar um serviço útil como outrora.

Fonte: www.otempo.com.br

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