A segunda guerra dos navegadores

Três browsers de qualidade - Chrome 10, Firefox 4 e Internet Explorer 9 - competem pelo mercado que já foi dominado pela Microsoft e quem sai ganhando são os usuários
RENAN DISSENHA FAGUNDES
O WorldWideWeb, primeiro navegador da história, foi lançado ao público em agosto de 1991. Criado por Tim Berners-Lee, o programa, todo cinza e com uma interface textual que não faz muito sentido para os usuários de hoje, era então a única forma de acessar a outra famosa invenção do cientista britânico: a própria web. Quase 20 anos depois, nunca antes houve tantas boas opções de navegadores quanto agora. Em março, as empresas por trás dos três principais browsers disponíveis no mercado lançaram novas versões - rápidas, modernas e minimalistas - de seus programas. Até mesmo o novo IE - líder, mas patinho feio do trio, formado também pelo Chrome e o Firefox - foi recebido com críticas bastante positivas.
Essa competição entre três programas de qualidade é inédita na história dos navegadores, e a concorrência parece estar levando as empresas para o lado certo: a nova geração de browsers é mais rápida, mais segura e está mais preocupada em seguir certos padrões desenvolvidos para a web. O World Wide Web Consortium (W3C), fundado por Bernes-Lee em 1994, é a entidade responsável por definir e defender esses padrões. O HTML, a linguagem base com a qual são construídos os wesites, é um deles. Os padrões da W3C dizem respeito a quais estruturas são utilizadas para a criação da web - páginas que os respeitam são mais leves e funcionam melhor -, mas os navegadores também precisam aceitar esses padrões. E eles estão aceitando. O HTML5, por exemplo, a mais nova versão do HTML: os navegadores novos competem para ver qual está mais estruturado para entender páginas com a nova linguagem.
Mas nem sempre a concorrência entre navegadores foi boa para os usuários - o resultado de uma competição semelhante, nos anos 1990, não foi tão agradável. A história dos navegadores foi marcada por duas empresas que chegaram a dominar o mercado quase completamente: primeiro a Nestcape, e depois a Microsoft. Lançado em dezembro de 1994, o Netscape Navigator já tinha quase 80% do mercado no fim de 1995. Em novembro daquele ano, a Microsoft lançou, completamente grátis, o Internet Explorer 2. A substituição do Netscape pelo IE ganhou o nome de guerra dos navegadores e virou até documentário no Discovery Channel. Durante a guerra, entre 1995 e 1999, as duas empresas se preocuparam mais em adicionar novos recursos aos softwares do que em arrumar problemas, muitos deles problemas de segurança. A adesão aos padrões da W3C também ficou em segundo plano - era preciso muito mais trabalho dos desenvolvedores para garantir que um site funcionaria nos dois navegadores.
E então a Microsoft ganhou. Se você usava a web no começo da década de 2000, sabe disso: deve lembrar uma época em que o IE era praticamente a única opção, ou o programa que a maior parte das pessoas usava (o Opera, ainda hoje uma alternativa menos usada [e líder no mercado de navegadores para celulares], já existia desde 1996). Depois de vencer a primeira guerra dos navegadores, o IE chegou a ter mais de 90% do mercado. Se a concorrência tinha atrapalhado, o monopólio foi pior ainda: o IE 6, lançado em agosto de 2001, quando a Microsoft já era onipresente no mercado de browsers, é um dos navegadores mais criticados da história. Era cheio de falhas de segurança, o CSS - um dos padrões da W3C mais usados na internet não - era totalmente aceito, era instável.
A Microsoft levou cinco anos para lançar o IE 7 e quando ele veio, já era tarde demais para a empresa manter seu domínio completo do mercado. O uso do IE teve um pico entre 2001 e 2004, mas a participação do software só caiu desde então. Descendente em código aberto do Netscape 4, foi o Firefox quem quebrou o domínio do IE. A primeira versão oficial do browser foi lançada pela Mozilla Foundation, uma organização sem fins lucrativos, em novembro de 2004. É aí que começa uma segunda versão da guerra dos navegadores, mas, diferente da primeira, com bons resultados para os usuários.
O IE, hoje, tem apenas 45,11% do mercado de browser, e em queda: perdeu quase 10 pontos percentuais apenas nos últimos 12 meses. Em uma repetição da primeira guerra dos navegadores, o Firefox seria o candidato ao trono, mas a situação não é bem essa: do seu lançamento até junho de 2009, o Firefox conseguiu ganhar 30% dos usuários de internet, e nada mais. O crescimento está estagnado desde então, com 29,99% do mercado em março de 2011. Mas se o IE está em queda constante e o Firefox estagnado, para onde estão indo os usuários de internet? Para o Chrome, lançado pelo Google em dezembro de 2008. Em pouco mais de dois anos, o Chrome já tem 17,36% dos usuários de internet do planeta, e é o único dos três principáis navegadores que ainda está crescendo.
É nesse ambiente que os três principais navegadores do mercado ganharam novas versões: o Chrome 10, o Firefox 4 e o Internet Explorer 9. O Chrome era então tido como a melhor opção - a versão anterior do Firefox apresentava alguns problemas de performance e o IE não é exatamente conhecido pela velocidade e pela segurança -, mas os lançamentos do último mês colocaram os três browsers meio que em um empate.
Há uma série de testes padrão para comparar navegadores. A maior parte deles envolve velocidade na utilização de recursos da internet, mas há outros, como de consumo de energia em laptops. Realizados por diversos blogs especializados em tecnologia, esses testes mostram que, embora em alguns quesitos um programa seja um pouco melhor que outro, no geral não é possível apontar um ganhador óbvio. Os três programas são bons do ponto de vista técnico. O IE 9 já é considerado o melhor navegador da história da Microsoft, e o Firefox 4 tem a velocidade necessária para conseguir de volta quem trocou o programa da Mozilla pelo Chrome. Para o usuário, a escolha vai acabar sendo pessoal, e nos detalhes.



Os novos navegadores
 
Mais espaço para as páginas
aDesde sua primeira versão, o Chrome dá mais ênfase ao espaço do site do que aos recursos do programa. Internet Explorer e Firefox seguiram essa tendência em suas novas versões: as abas ganharam um lugar mais discreto, os menus foram reduzidos a um simples botões - do lado direto, no caso do Chrome e do IE, ou do lado esquerdo, no Firefox. O IE é o mais radical no minimalismo: as abas não ficam acima da barra de endereços, mas dividem o mesmo espaço horizontal. Tudo para privilegiar aquilo que importa mais na internet: a página.





Complementos 
Aqui ainda é onde o Internet Explorer está bem atrás dos concorrentes. Chrome e Firefox têm uma biblioteca imensa de extensões que podem ser adicionados aos navegadores. Até existem recursos adicionais para o IE, mas bem menos que para os outros browsers. O Chrome é o que vai mais longe nas extensões: alguns dos principais complementos para Firefox - como o Firebug e o Greasemonkey - viraram recursos padrão no programa do Google. O Firefox 4 tem uma opção de atualização automática das extensões.

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Barras de endereço e busca 
O IE 9, assim como o Chrome, não possuiu mais barra de buscas: as pesquisas são feitas no mesmo campo que o usuário usa para digitar endereços de sites. Por padrão, as buscas nesses navegadores são feitas nos buscadores de suas donas: no Google, para o Chrome, e o Bing, para o IE. Essas barras também tentam advinhar o que o usuário está digitando. Mas é o Firefox 4 - que ainda possui uma busca separada - que tem a barra mais útil: chamada pela Mozilla de "awesome bar" ("barra incrível"), a barra de endereços do Firefox é a melhor para achar com precisão qual site o usuário está começando a digitar o endereço.
 
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Mesmos favoritos, qualquer lugar 
Uma nova opção no Firefox 4 é a sincronização dos seus favoritos com a nuvem - os servidores remotos que guardam os dados dos usuários de internet. Assim, seus dados pessoas salvos no Firefox 4 podem ser acessados de qualquer Firefox 4, mesmo em outros computadores - ou também no seu smartphone. O Chrome, desde a primeira versão, sincroniza as informações dos usuários usando suas contas do Google.
 
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Segurança 
Os três navegadores têm um padrão de segurança alto, mas o Chrome possuiu uma vantagem: falhas de segurança vão ser encontradas, sempre, e forma de arrumar esses problemas é atualizar o navegador. Firefox e IE avisam das modificações e dependem que seus usuários baixem os novos programas. As atualizações do Chrome - tanto dentro das versões, quanto para novos lançamentos - são automáticas. Por isso também o IE 8 e o Firefox 3.6 ainda são as versões mais usadas de seus navegadores, enquanto a do Chrome já é a 10.
 
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Compatibilidade 
O Firefox 4 e o Chrome 10 rodam nas versões atuais do Windows, no sistema operacional dos computadores da Apple e nos sistemas de código aberto Linux. O IE 9, por outro lado, só funciona no Windows - e apenas no Vista e no 7, o mais recente sistema operacional da empresa. Aos usuários do XP, ainda a versão mais popular do Windows, a Microsoft indica o IE 8.

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