Embaixadora de Nauru afirma que aumento do nível do mar é conseqüência climática mais temida


27/04/2011   -   Autor: Jéssica Lipinski   -   Fonte: Instituto CarbonoBrasil/Agências Internacionais

Menor república do mundo diz que países desenvolvidos devem dar continuidade a Protocolo de Quioto, aumentar metas de redução de CO2 e fontes de financiamento imediatas para as mudanças climáticas em nações emergentes

A elevação do nível dos oceanos é o impacto “mais aterrador” das alterações climáticas, e os países industrializados não estão mostrando muita iniciativa para resolver essa ameaça, declarou a futura presidente da Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS em inglês) na terça-feira.
Marlene Moses, embaixadora e representante permanente da República de Nauru na ONU, adverte que as nações desenvolvidas devem fazer muito mais para cortar suas emissões de gases do efeito estufa (GEEs) e para ajudar os países emergentes a resolver suas questões climáticas.
 Nauru, a menor república do mundo, foi escolhida na terça-feira para assumir no final de 2011 a presidência da AOSIS, grupo formado por 43 nações insulares. Atualmente, a presidência da aliança está a cargo do estado de Grenada. Dos participantes do grupo, os mais ameaçados pelo avanço do nível do mar são os estados caribenhos e os banhados pelo Oceano Índico.
“[O aumento do nível oceânico] é o impacto mais aterrador das mudanças climáticas. Uma vez eu disse que as alterações climáticas são uma ameaça tão grande para a segurança quanto um exército invasor. A ascensão do nível do mar forçará as pessoas a se deslocarem”, assegurou Moses.
A embaixadora acusou os países industrializados de não tomarem atitudes suficientes em relação a este problema. “Nós realmente estamos esperando que um líder surja do primeiro mundo. Nós estamos enfrentando não só uma crise climática, mas também uma crise de liderança. Isso está barrando o processo multilateral”, lamentou.
Moses assegurou que os dez mil habitantes de Nauru, que vivem em uma ilha de 21 quilômetros quadrados no oeste do Pacífico, correm o risco de enfrentar falta de água, erosão e danos por causa das alterações oceânicas causadas pelas mudanças climáticas.
Situações similares estão ocorrendo no Pacífico e causam graves implicações nos estoques de comida, estoque de água e nas regiões onde as pessoas vivem. Há cerca de duas semanas, os moradores do arquipélago de Carterets tiveram de abandonar suas casas e deslocar-se para a ilha Bougainville, a 80 quilômetros do arquipélago, para fugirem dos estragos que as alterações climáticas fizeram no local.
“Para atóis de baixa altitude – as Ilhas Marshall, Kiribati, Tuvalu – a elevação do nível do mar é realmente uma ameaça. O deslocamento é uma ameaça. É iminente”, alertou a embaixadora a respeito dos riscos que estas ilhas correm de serem inundadas pelo aumento do nível oceânico.
De fato, algumas dessas ameaças já começaram a se concretizar. De acordo com Moses, dados científicos apontam que o nível dos oceanos subiu 17 centímetros no século 20, e estimativas indicam que pode elevar-se até um metro até 2100, devido aos riscos do derretimento acelerado das calotas polares. E cientistas alertam que a situação ficará muito pior a menos que a emissão dos GEEs, responsável pelas mudanças climáticas, seja reduzida drasticamente.
Por isso, para a AOSIS, as decisões prioritárias a serem tomadas são a assinatura de uma extensão do Protocolo de Quioto, o aumento das metas de redução de emissões e a aplicação de mais fundos para auxiliar as nações em desenvolvimento a lidarem com os impactos das mudanças climáticas.
No entanto, essas decisões ainda podem demorar algum tempo até serem tomadas. Países como o Canadá, o Japão e a Rússia garantiram que não assinarão um novo acordo nos moldes de Quioto, a menos que grandes emissores como a China e a Índia também concordem em firmar um pacto pós-2012.
“As coisas não estão acontecendo tão rápido como nós gostaríamos que elas acontecessem. Nauru mesmo não recebeu nenhum dinheiro do chamado fundo de ‘arranque rápido’ de quase US$ 30 bilhões para 2010-12”, afirmou a embaixadora em relação às finanças climáticas.
“Nossa habilidade de encontrar uma solução para as mudanças climáticas dependerá das escolhas feitas e dos valores priorizados. Também dependerá em quem priorizamos – os ricos ou os pobres, os seguros ou os vulneráveis, as gerações atuais ou as futuras”, refletiu Moses.
“Essas decisões determinarão se o futuro será destrutivo para os recursos restantes do planeta ou se será a partilha igualitária de uma prosperidade crescente e contínua. Porque no fim, nós tomos vivemos na mesma ilha, e a forma como nós a tratamos e tratamos a nós mesmos vai estabelecer o destino da humanidade”, concluiu.

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